Flagrantes de abusos de manobristas
Quando você entrega o seu carro ao manobrista, fica tranqüilo, não é mesmo? Tem certeza de que ele está bem seguro, guardado, sem o menor risco de ser roubado. O que você vai ver agora é um festival de absurdos que acontece dentro de carros entregues a manobristas em São Paulo. O Fantástico colocou uma câmera escondida dentro de um carro. Veja o que aconteceu!

Você acredita que ao deixar a chave do carro com o manobrista, ele pode mexer nos seus objetos pessoais? Dar carona a outras pessoas? Estacionar o carro na rua? E até roubar dinheiro? Pois acredite. O Fantástico gravou tudo. “Aqui quem manda é nós", diz um manobrista. "Você paga e não sabe o que está acontecendo com o seu carro", afirma o comerciante Nilo Ferreira. "Eu não confio no trabalho dos manobristas”, diz uma senhora. “Já roubaram um óculos meu”, diz um rapaz. “Riscaram um carro meu, uma vez, o pára-choque”, conta uma menina. “Eu sempre tiro o som e sempre levo o celular ou alguma coisa de valor que esteja dentro do carro”, diz outra garota.

O Fantástico resolveu testar os serviços de valet, ou manobrista, em São Paulo, responsáveis por estacionar o carro do cliente em local seguro. Uma câmera foi instalada dentro do automóvel. No console foram deixadas moedas e notas de um e cinco reais. O que será que eles fazem quando ninguém está olhando? A primeira surpresa: um manobrista, a caminho do estacionamento, resolve dar carona a um amigo. Depois que o amigo sai do carro, ele acende a luz e começa a mexer no dinheiro deixado no console. Escolhe as moedas e enfia as moedas no bolso da calça. Depois, ele pega as notas e guarda o dinheiro no bolso da camisa. Ele não é o único. Outro manobrista também vasculha o carro à procura de moedas. Já um manobrista se mostra bastante curioso. Depois de pegar o dinheiro no console e guardá-lo no bolso da camisa, abre o porta-luvas e parece muito interessado em encontrar algo debaixo do tapete do banco traseiro. Passa cerca de um minuto dirigindo o carro com apenas uma das mãos, enquanto faz a busca. Não satisfeito, ele pára, sai do carro, entra pela porta traseira, e continua a procurar. O Fantástico também deixou uma revista masculina como isca. O manobrista mostra a revista para os amigos e resolve dar uma olhadinha. A cidade de São Paulo é a única no Brasil que tem lei para regulamentar os serviços de valet. E a lei diz que os manobristas, enquanto estiverem com o carro dos clientes, têm de respeitar as normas do Código de Trânsito Brasileiro. Só que as imagens mostram que eles não usam cinto de segurança. Além disso, o carro tem de ser deixado em um estacionamento seguro.

Mas não é o que acontece. “Muitos valets pegam o seu carro e param na rua, na via pública, e cobram dinheiro por isso. Sem ter o seguro e sem estar parado no estacionamento”, diz Flávio Arruda, dono de restaurante. O Fantástico flagrou manobristas estacionando carros em uma rua escura e deserta. O estabelecimento que você trabalha costuma sempre deixar os carros parados aqui na rua?, perguntamos a um manobrista. “Só quando o estacionamento está muito cheio”, diz. “Você deixaria seu carro nesta rua?, indagamos. “Não”, responde ele. “A gente tem que dirigir com responsabilidade. A partir da hora que a gente pega o carro do cliente, tem que saber que a gente tem que ter o cuidado de levar ele com segurança e trazer com segurança”, diz o manobrista Claudemir Martins. Na prática, a história é outra. Veja só a falta de atenção de um manobrista ao tirar o carro da vaga. Ele dá marcha à ré e arranha a lataria. São Paulo tem cerca de 600 empresas que oferecem serviços de manobrista, mas poucas são legalizadas. “Em torno de 70% delas são totalmente irregulares”, diz Syrius Lotti Junior, da Associação das empresas de Valet de São Paulo. E se a empresa de valet não tiver seguro ou se recusar a pagar qualquer prejuízo? Como o cliente pode se defender? “Ele deve acionar a casa que contratou esse serviço de valet. Ele pode e deve acionar essa casa noturna, o restaurante que tenha contratado esse serviço”, diz Jong Wen Kim, do Procon/SP. Por exemplo, a empresa deve, inclusive, pagar a multa que o motorista leva se dirige sem cinto de segurança. E os pontos devem ir para a carteira do manobrista. Outra dica importante: verifique o carro no momento em que o manobrista devolver a chave. “Olha todo o carro, dá uma volta no carro, entra, observa se está faltando algum objeto. Isso é fundamental. Todo consumidor deve fazer isso. No momento em que ele der falta de algum objeto ou ele perceber alguma avaria no seu veículo, imediatamente dirija-se ao representante do valet. Faça uma reclamação, por escrito, inclusive ao supervisor e depois vá até a delegacia mais próxima e faça um boletim de ocorrência”, alerta o representante da Associação das empresas de Valet de São Paulo. “Eu não deixo mais o meu carro em valet. Cuidam mal dos carros, não têm cuidado”, diz o comerciante Nilo Ferreira. “Eles não têm noção da responsabilidade que eles têm na mão”, acredita a advogada Rosalina dos Campos.
FONTE: Rede Globo, Fantástico, 19 de março de 2006
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